Os manuais de rosto e de paisagem formam uma pedagogia, severa disciplina, e que inspira as artes assim como estas a inspiram. A arquitetura situa seus conjuntos, casas, vilarejos ou cidades, monumentos ou fábricas, que funcionam como rostos, em uma paisagem que ela transforma. A pintura retoma o mesmo movimento, mas o inverte também, colocando uma paisagem em função do rosto, tratando de um como do outro: "tratado do rosto e da paisagem". O close de cinema trata, antes de tudo, o rosto como uma paisagem, ele se define assim: buraco negro e muro branco, tela e câmera. Mas já as outras artes, a arquitetura, a pintura, até o romance: close que os anima inventando todas as correlações. E sua mãe é uma paisagem ou um rosto? Um rosto ou uma fábrica? (Godard). Não há rosto que não envolva uma paisagem desconhecida, inexplorada, não há paisagem que não se povoe de um rosto amado ou sonhado, que não desenvolva um rosto por vir ou já passado. Que rosto não evocou as paisagens que amalgamava, o mar e a montanha, que paisagem não evocou o rosto que a teria completado, que lhe teria fornecido o complemento inesperado de suas linhas e de seus traços? Mesmo quando a pintura se torna abstrata, ela não faz senão reencontrar o buraco negro e o muro branco, a grande composição da tela branca e da fenda negra. Dilacera-mento mas também estiramento da tela por eixo de fuga, ponto de fuga, diagonal, golpes de faca, fenda ou buraco: a máquina já está aí, funciona sempre, produzindo rostos e paisagens, mesmo as mais abstratas. Ticiano começava pintando preto e branco, não para formar contornos para serem preenchidos, mas como matriz de cada cor por vir. O romance — Perceval viu um vôo de gansos selvagens que a neve havia ofuscado. (...) O falcão encontrou um deles, abandonado, desse bando. Atingiu-o, chocou-se contra ele com tanta força que o derrubou. (...) E Perceval vê a seus pés a neve em que o ganso se colocara e o sangue ainda aparente. E ele se apóia em sua lança a fim de contemplar a visão do sangue e da neve juntos. Essa cor fresca lhe parece a do rosto de sua amiga. Ele esquece tudo enquanto pensa nela, pois fora exatamente assim que havia visto, no rosto de sua amada, o vermelho colocado sobre o branco como as três gotas de sangue sobre a neve surgiam. (...) Vimos um cavaleiro que dorme sentado sobre sua montaria. Está tudo aí: a redundância própria ao rosto e à paisagem, o muro branco de neve da paisagem-rosto, o buraco negro do falcão ou das três gotas distribuídas sobre o muro; ou antes, ao mesmo tempo, a linha prateada da paisagem-rosto que escoa em direção ao buraco negro do cavaleiro, profunda catatonia. E será que, em determinadas circunstâncias, o cavaleiro não poderá levar o movimento cada vez para mais longe, atravessando o buraco negro, furando o muro branco, desfazendo o rosto, mesmo se a tentativa fracassa7?
CULTURA_ E_ CIBER_ARTE
Este é um blog voltado para o educação, a arte e a cibercultura. Trará videos de intelectuais para que possamos juntos refletir. Venha participar comigo desta coletânia e desta interlocução. Obrigada.
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Fonte da imagem:
http://www.sxc.hu/ ( consultado em 11/11/2009).
Vem, vamos expor nossas idéias.
Veja de onde saiu este texto:
DELEUZE, Gilles; GUATARI, Félix. _____. Mil Platôs – capitalismo e esquizofrenia. 1ª reimpressão: São Paulo: Editora 34, Coleção Trans, v.3, 1996.(paginas 36-7)
http://www.sxc.hu/ ( consultado em 11/11/2009).
Vem, vamos expor nossas idéias.
Veja de onde saiu este texto:
DELEUZE, Gilles; GUATARI, Félix. _____. Mil Platôs – capitalismo e esquizofrenia. 1ª reimpressão: São Paulo: Editora 34, Coleção Trans, v.3, 1996.(paginas 36-7)
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